sábado, 31 de janeiro de 2009

Noite

A noite explode sua força em nossos corações
Espalhando sensações e moldando nossas vidas.
A noite os amantes despertam o desejo
Meu coração é desejo por toque.
A noite os enamorados tecem seus sonhos,
meu coração é uma gravura de sonhos de namorados.
A noite espalha escuridão e incerteza em nossa alma,
meu coração gagueja indecisão.
A noite toma com suas garras os solitários,
e meu coração agoniza, abandonado.
A noite alimenta os sonhos infelizes,
meu coração não mais sonha.
A noite oferece aos olhos uma amostra de cegueira,
e eu continuo tateando na escuridão.
A noite trasparece um ceu estrelado,
Meu coração se obscurece de inveja.
A noite lança seu manto sobre todos,
meus sentimentos me ditam ordens.
A noite mostra clara a face da saudade,
meu coração se encolhe medroso.
A noite expõe, esconde e eleva nossos sentimentos,
É um prenúncio da claridade,
É um antecedente de mais escuridão,
E continuamos a sua mercê.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Distância

O exercício de amar alguém é sempre um exercício prazeiroso. Falava ontem com uma pessoa muito especial em minha vida, amar algúem é sempre bom, revigora a alma, como se avisando para seu coração, veja só, você é capaz de amar. Amar por si só é algo divino. Amor é algo que devemos exercer de forma incondicional, amor e pronto. Amar alguém, mesmo que não sejamos amados é bom. Quando há o amor do outro lado, é maravilhoso. Amar é inexplicável, não dá para saber se é a visão, cheiro, magnetismo, não dá para saber porque você começa a amar alguém. Começa-se e ponto final, ou reticências...?
Uma prova de como o amor é estranho é o fato de que as vezes começamos a amar logo quando olhamos alguém, ou começamos a amar quando ouvimos uma voz, ou quando sentimos um espírito próximo. Ou a soma de todos. Para iniciar um amor, não é preciso estar lado a lado, pode ocorrer a longa distância, basta que nossa imaginação ganhe asas e comece a voar, voar. Amar é exercer a liberdade, é deixar sua alma sair de seu corpo e sentir a alma do ser amado. É sentir taquicardia ao olhar pra o telefone, depois a ficha cai. Liga.
É ter receio do que será dito ou ouvido do outro lado. Mas por outro lado, amar com medo não é amar plenamente. Quanto deixamos de amar por receio? receio de não ser amado, receio de sofrer? Ame e só. Ame e não exija amor, amor não deve exigir troca. Ame e dê seu amor.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Saudades

Conversava com a Naná outro dia na empresa onde trabalho, a Biominerais. Sempre conversamos no intervalo do almoço. Falava sobre saudade há alguns dias atrás. Não sei se saudade é algo bom de se sentir, sei que saudade tem muita pitada de egoísmo. Entendi isso quando a minha Beth faleceu no dia de finados há anos atrás. Tínhamos conversado na noite anterior, ia sair para jantar e nos falamos sobre projetos e nossos sonhos em ajudar pessoas com síndrome de Down. Eu e ela tinhamos planos na área e estávamos tentando registrar uma patente e, se comercialiada, o valor iria para ajudar estas pessoas. Bem, ela morreu e eu, sem vergonha de dizer, ao receber a notícia fiquei sem chão e comecei a chorar. Chorei, verti lágrimas pela minha amiga, pelos sonhos não realizados e não realizáveis, pela grande companheira, parceira de planos e de sonhos e de intelectualidade. Passado o momento eu comecei a pensar. Porque estou chorando? Ela deve estar muito bem agora, ela ficará bem. Uma alma nobre, uma pessoa de boas intenções, uma pessoa que vivia o amor no dia a dia. Ela só poderia estar bem. Porque eu chorava? Porque eu queria a Beth perto, ao meu alcance para nossas conversas, nossos planos. Daí eu vi o quanto eu sou egoísta. A falta que ela me faria gerou uma sensação de saudade precoce que se traduziu na minha reação. Puro egoísmo de minha parte. Entendi então que não preciso ficar perto para gostar e partilhar a felicidade de meus amigos, na verdade, se meus amigos estiverem bem, podem estar até do outro lado do planeta que eu também ficarei bem. Sinto falta da Beth, porém levarei o projeto em frente em homenagem a ela, é a herança que ela me deixou. Beth eu não esqueci. Você me faz falta minha amiga, mas se você está bem por aí do outro lado, eu estou feliz por você, e feliz vou levando minha vida e nossos planos. Saudade tem uma pitada de egoísmo, pelo menos é o que eu conclui.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Teu e Meu

Teu e meu significam muito, eu sou teu tu és minha.
Eu sou teu algoz, tu és minha vítima.
Sou teu carrasco, és minha ré.
Eu sou tua dor, sou teu calvário.
Tu és mulher e meu alvo,
Tu és minha e és a minha sina.
Eu sou seu destino..
Como o chicote que busca teu couro,
Procuro seu abrigo.
Como a dor que lhe aflige,
Sou seu destino
Como o mar é para o rio.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Sonhos futuros

Não verei com certeza, mas assim como Martin, eu tenho sonhos com a sociedade. Sonho com um dia quando o salário de um trabalhador braçal não será muito diferente de um formado, traduzindo, um gari ou um servente ganhará quase tanto quanto um advogado, mas o mais importante, o quanto ele ganhará sustentará uma vida digna. Sonho com um dia onde as pessoas não serão discriminadas, nem pela cor, nem pelo grau de instrução, nem pelas suas vestes ou por conta de deficiência física, mental ou psicológica. Sonho em não ver mais noticiarios tristes relatando fome, mortes e destruição. Sonho que um dia, todos teremos um conceito mais justo para com o próximo, todo mundo é bom até que prove que não aprendeu a ser bom, e quando ele provar que não aprendeu a ser bom, nós o ajudaremos a ser bom. Sonho com um dia em que todos seremos iguais e tratados de forma igual. Tal qual Martin, sei que não viverei para ver, mas me permito sonhar e lutar para que este mundo seja real para todos.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Neruda

Lia uma entrevista da Clarice Lispector com Pablo Neruda. Gosto do Neruda e ele faz parte da minha leitura. Bem, no frigir dos ovos a pergunta que ficou em minha mente foi:
Clarice Lispector - Você já sofreu por amor?
Neruda - E espero sofrer muito mais.
Isso sintetiza um pouco do que eu falei abaixo, na postagem anterior. Amar e sofrer por amor são processos que podem estar ligados, mas que no final das contas podem ser encarados como "legais". Amar sempre é bom. Quem nunca amou ardorosamente, paixão desenfreada com uma pitada de irracionalidade, um tempero puxado de desejo? É muito bom, excelente, fantástico até. E quem nunca perdeu um amor assim? Eu já perdi e senti a dor de perder um amor. Parece o fim de tudo, você perde seu lugar. A posição típica de dormir não serve mais. Os hobbies perdem sua atratividade, as pessoas perdem sua cor, a comida perde seu tempero saboroso. Mas por outro lado, a mente trabalha melhor a dor, a dor dá lugar a inspiração poética, como se cada palavra traçada deixasse um pouco do sofrimento e substituisse por ... algo novo, um renascimento. Até ser substituido por outro amor ou ser engavetado. Sim, possuo amores engavetados, amores mal terminados, amores pendentes que um dia tentarei reviver se a vida e as coincidências o permitirem. Escrevo quando estou bem, escrevo quando estou ruim. Mas quando estou ruim escrevo melhor.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Dor e inspiração

A dor é amiga do escritor. Não há melhor musa inspiradora e melhor professora de literatura que a dor. Não sei porque a dor estimula a criatividade do poeta, talvez porque no momento da dor nós tenhamos uma tendência a introspecção e uma tentativa de ver nossa própria alma. A dor do amor é a caneta com a qual transcrevemos nossas sensações com o maior nivel de inspiração possível. Nada melhor que um amor quebrado, uma amada indiferente para que possamos escrever, descrever e tracejar de forma brilhante linhas que descrevem o amor em toda sua plenitude.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Olhar

Falava com uma amiga no intervalo do almoço na empresa esta semana. Gosto de comentar sobre temas que passam pela minha cabeça, acho que conversas aleatórias devem ser como o céu azul, passam nuvens de vários tamanhos e formatos. Estas nuvens vão e vem numa velocidade incrível. Quem nunca se deitou numa sombra e ficou observando o céu e tentando decifrar o formato sugerido pelas nuvens? Quem não o fez creio, nunca teve tempo para si próprio. Imagine uma paisagem e olhe, veja, desfrute. Agora imagine que existem milhões de pessoas vendo aquela paisagem, acredite ou não, cada um verá de forma diferente, todos enxergarão a mesma cor, talvez até a mesma textura. Mas o matiz gerado pelas diferentes texturas formarão impressões diferentes no cérebro de diferentes pessoas dando uma interpretação também diferente. Não é difícil imaginar, quantas vezes olhamos uma paisagem de relance e não a vemos. Olhamos num outro dia com um outro olhar e uma alma com uma densidade diferente, vemos com outros olhos. Agora imagine que, numa paisagem plástica a visão objetiva pode imprimir impressões subjetivas diferentes, influenciada por quem viu, não pelo que foi visto. Lindo não é mesmo? Se isso ocorre com paisagens, imagine com ações. Quando olhamos um acontecimento, as vezes nós vemos de forma diferente do indivíduo que está ao nosso lado, quando imaginamos a história que existe por trás de um segundo... toda história do universo, como podemos julgar as pessoas ou o que elas fazem com a facilidade que o fazemos hoje? temos esta capacidade e este direito? Não temos nem a certeza de que interpretamos de forma correta o que está ocorrendo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Vendedor de sonhos

Há vários anos atrás, quando ainda estudava, na parte livre do meu tempo, principalmente no período de férias eu auxiliava nos trabalhos da indústria de móveis do meu pai. Gostava particularmente de dar acabamento em madeira esculpida. Tipo folhas e flores enfeitando cabeceiras de camas, partes de mesas, cadeiras. Bem, havia um depósito cuja frente era voltada para a rua e uma porta de aço abria diretamente para a calçada. Eu sentava na porta do depósito e com formão e lixa tentava dar um formato melhor as esculturas em madeira, aproveitando para observar o movimento das ruas, olhar curioso sobre as pessoas que passavam e as vezes as pessoas paravam para conversar. Gosto disso. Conversar com as pessoas, tentar olhar a vida com outros pontos de vistas, referências novas. Curiosamente um dia eu estava concentrado em meu trabalho e não percebi a chegada de um menino que ficou encostado na porta ao meu lado com uma travessa coberta por um pano de prato branco. Olhei para o menino e esperei ele tomar a iniciativa.
(ele) - quer comprar sonhos?
(eu) - sonhos...? Não obrigado.
Virei e continuei a trabalhar e ele continou a me olhar. Resolvemos conversar e numa espécie de curiosidade meio mórbita pergunte a ele o que ele esperava da vida...
(ele) - bem, vou estudar, trabalhar e quero ser político.
(eu) - político? mas por que?
(ele) - para ter uma vida melhor, vou roubar e construir casas, comprar carros.
(eu) - mas esse não é o papel do político, isso é um crime.
(ele) - mas todo mundo faz, eu vou fazer também...

Bem, o fato é que aquela conversa me entristeceu bastante e o meu pequeno interlocutor saiu para continuar a trabalhar. Ironia do destino que me fez postar aqui esta conversa. Vendedor de sonhos com um sonho que, dependendo onde ele chegaria poderia ser um pesadelo para muitos. Imagino que os nosso políticos imaginam mas nem se importam de, numa canetada matar sonhos e futuros de milhares de pessoas, talvez milhões. Fiquei hoje imaginando, gostaria de reencontrar o meu pequeno interlocutor para ver onde ele chegou, pois nunca mais o vi.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Falar e ouvir

Aprender a ouvir é uma boa prática. Aprender a entender o que ouviu é uma prática melhor ainda. Explico. As vezes a beleza não está no que é visto, afinal o que é visto é só um reflexo de diferentes comprimentos de onda que no final das contas mostra a imagem. A beleza de fato está em quem olha, quem vê e interpreta no cérebro os matizes das cores, e mais, a sensação subjetiva que nos dá os matizes, que seria a cor inexistente. Combinações de cores nos despertam sensações diferentes que as cores isoladas. Mas isso é para outro dia. Quando ouvimos uma frase, ela deve ser interpretada no contexto, ou seja, "eu gosto de você", quando dito frontalmente com os olhos nos olhos, é muitas vezes um gostar amigo. "Eu gosto de você", dito tocando o braço de alguém em tom baixo ao pé do ouvido, de forma rouca, sensual quer dizer eu gosto de você em outro sentido, o sentido do amor, a relação homem e mulher. Mas isso não é só para "eu gosto", é para tudo. A forma como nós interpretamos o que nos é dito é a forma de real valor, pelo menos para nós. Portanto devemos ter cuidado ao interpretar o que ouvimos e o que falamos. Sempre haverá quem nos entenda de forma errada, o labirinto da mente humana torce o sentido das palavras da forma a, coincidentemente, atender as necessidades de quem ouve, ou simplesmente de forma errada porque foi entendido assim. Falar é um exercício perigoso, não o falar em si, mas o ser interpretado, a distância entre o que é falado e o que é ouvido as vezes é a mesma entre você e sua imagem no espelho, rigorosamente iguais, mas invertido.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Chorar ou não chorar

Eu não me envergonho em determinados momentos de minha vida em verter lágrimas e fazer alguns barulhos estranhos. Sim, chorar é algo que para mim é impossivel de conter. Eu as vezes me comovo e me vejo chorando, ou pelo menos lacrimejando. É assim quando eu vejo as crianças da Somália em reportagens, é assim quando eu vejo uma cena comovente num filme... é mais frequente quando eu penso no meu filho distante. Não quero ser piegas nem demagogo, cada lágrima que derramamos lava nossa alma, é como se fosse uma excreção ou secreção, pela lágrima soltamos o que está preso, seja bom, seja ruim. As mulheres tem mais facilidade em chorar, nós homens somos criados para não chorar. Eu não vejo o mundo assim, se as vezes temos vontade, devemos chorar sim, talvez chorar nos faça mais humanos. Eu sempre acho que a mulher é mais humana e mais sincera que o homem, coincidentemente ela sabe chorar, ela sabe abdicar de suas vontades pela vontade do homem, ela as vezes aceita uma vida de sofrimento pelo amor. Se ligamos tudo isso a ser mais sentimental, mais fácil de se comover, acho que chorar nos tornaria mais humanos. As pessoas que eu conheço que se recusam a chorar eu noto que são menos humanas. São mais duras consigo e com a vida, consequentemente com quem as cerca. Cada gota que cai no chão é um pouco da sua dor que se vai, ou um pouco da sua alegria que jubila a terra.