Há vários anos atrás, quando ainda estudava, na parte livre do meu tempo, principalmente no período de férias eu auxiliava nos trabalhos da indústria de móveis do meu pai. Gostava particularmente de dar acabamento em madeira esculpida. Tipo folhas e flores enfeitando cabeceiras de camas, partes de mesas, cadeiras. Bem, havia um depósito cuja frente era voltada para a rua e uma porta de aço abria diretamente para a calçada. Eu sentava na porta do depósito e com formão e lixa tentava dar um formato melhor as esculturas em madeira, aproveitando para observar o movimento das ruas, olhar curioso sobre as pessoas que passavam e as vezes as pessoas paravam para conversar. Gosto disso. Conversar com as pessoas, tentar olhar a vida com outros pontos de vistas, referências novas. Curiosamente um dia eu estava concentrado em meu trabalho e não percebi a chegada de um menino que ficou encostado na porta ao meu lado com uma travessa coberta por um pano de prato branco. Olhei para o menino e esperei ele tomar a iniciativa.
(ele) - quer comprar sonhos?
(eu) - sonhos...? Não obrigado.
Virei e continuei a trabalhar e ele continou a me olhar. Resolvemos conversar e numa espécie de curiosidade meio mórbita pergunte a ele o que ele esperava da vida...
(ele) - bem, vou estudar, trabalhar e quero ser político.
(eu) - político? mas por que?
(ele) - para ter uma vida melhor, vou roubar e construir casas, comprar carros.
(eu) - mas esse não é o papel do político, isso é um crime.
(ele) - mas todo mundo faz, eu vou fazer também...
Bem, o fato é que aquela conversa me entristeceu bastante e o meu pequeno interlocutor saiu para continuar a trabalhar. Ironia do destino que me fez postar aqui esta conversa. Vendedor de sonhos com um sonho que, dependendo onde ele chegaria poderia ser um pesadelo para muitos. Imagino que os nosso políticos imaginam mas nem se importam de, numa canetada matar sonhos e futuros de milhares de pessoas, talvez milhões. Fiquei hoje imaginando, gostaria de reencontrar o meu pequeno interlocutor para ver onde ele chegou, pois nunca mais o vi.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
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